Imigrando e vivendo no Canadá - um guia nada imparcial


by Rafael Rosa

Salve,

Semana sim, semana não eu recebo um e-mail de alguém me perguntando como é morar no Canadá, como foi o processo de imigração, se eu gosto daqui, como foi arrumar trabalho, como é o mundo de TI, etc. No início eu respondi com e-mails individuais, mas no fim, a informação é mais ou menos a mesma, e eu acabo demorando semanas para responder. Sendo assim, acho que o melhor é fazer um post com minhas impressões e compartilhar com todo mundo, com o tempo eu posso acrescentar e melhorar as informações, acho que vou ajudar mais gente dessa forma e não vou demorar para responder.

Peço desculpas à quem gostaria de ter uma resposta mais pessoal, mas esse é o tipo de informação que ajuda mais quando é compartilhada. Se você tiver perguntas deixe um comentário ou me mande e-mails e eu tentarei responder, e talvez até atualizar esse post.

ATENÇÃO: essa é a minha opinião e experiência, com todos os meus preconceitos e bias, não sou um reporter imparcial, esteja avisado

Background

Eu e minha esposa mulher, Clara, decidimos que queríamos sair do Brasil para fazer algo diferente, aprender coisas novas e sair da nossa zona de conforto. O Canadá foi uma escolha “fácil” porque é um país relativamente normal, não tem atentados ou direitistas malucos em cada esquina, tem um clima temperado que queríamos experimentar, o timezone é parecido com o Brasil, tem uma região onde se fala francês, o Québec, e ela tem família aqui, o que facilitaria a adaptação.

Gostaria de deixar claro que não saímos do Brasil porque estávamos cansados do país, porque que acreditamos no sonho do primeiro mundo, porque queríamos ficar ricos. O “primeiro mundo” é igualzinho ao Brasil em muitos aspectos, as pessoas aqui não são melhores, mais inteligentes, mais ricas, mais educadas ou mais bondosas, particularmente acho tudo muito parecido com o Brasil, mas muitos “classe média sofre” acham que estão vindo para o paraíso. Se esse é o seu caso, acho que vai se decepcionar.

Um ponto importante para muita gente, incluindo minha esposamulher, é que aqui é um lugar mais seguro, infelizmente o Brasil está cada vez mais violento, e isso é um problema difícil de arrumar, especialmente devido às diferenças sociais, e aqui você sempre se sente seguro, o que pode ser um ponto crucial. Cada um sabe o que é importante para si.

O processo de imigração

Além de todos esses fatores, lá por 2009, a província do Québec tinha um programa que incentivava a imigração de mão-de-obra qualificada, o que significava ser formado em alguma faculdade e estar numa lista de profissões pré-aprovadas. O Canadá tem um território gigante, o 2o maior país do mundo, com uma população ridiculamente pequena, +- 33 milhões de habitantes. Só para ter uma referência, só a região metropolitana de São Paulo, tem ~30 milhões de pessoas. Com taxas de natalidade baixas e uma população que envelhece rapidamente, é normal que eles estejam importando gente.

O Québec organizava palestras fazendo marketing do país, explicando porque era bom viver aqui, como o governo gastava dinheiro e explicando como funcionava o processo de imigração, bastava juntar a documentação (histórico escolar, certificado de inglês e francês e grana no banco), preencher milhões de formulários, pagar uma taxa, mandar para o consulado e esperar por volta de 1 ano até o processo acabar e você ganhava o visto de residente permanente. Essa é uma descrição simplificada, o povo aqui adora burocracia, e tinha uma entrevista no meio, mas o processo era ok, se você tivesse menos de 30 anos, fosse formado e falasse francês as chances de ser aceito eram enormes, bastava ter paciência. Nós fizemos o processo, esperamos uns 16 meses e pronto, visto na mão.

Note que nenhuma dessas informações é muito útil hoje em dia, até onde sei o governo decidiu fechar as portas do processo de imigração e fecharam o escritório de São Paulo, todo o processo é feito via Cidade do México e parece que é muito mais restrito. A fase de imigração fácil acabou, nós viemos na última leva onde tudo que se precisava ter era paciência.

Quem não imigra via Québec tem que fazer o processo Federal, que eu não conheço, mas sei que é diferente. Nesse processo você aplica como “skilled worker” e pode ser selecionado se trabalhar com alguma profissão que o Canadá quer incentivar a imigração. Parece que colocaram o povo de TI de volta na lista recentemente, veja o link abaixo.

Língua

Existem dois mundos: o Canadá e o Québec. No Canadá só se fala inglês, no Quebéc só se fala francês com sotaque quebecois, se você fez Aliança Francesa vai sofrer um pouco, exceto em Montreal, onde todo mundo (pelo menos quem trabalha em estabelecimentos comerciais) fala inglês e francês, mas Montreal é a exceção, não a regra.

Até onde sei, na maioria dos empregos e empresas francófonas, falar francês bem é essencial ou pelo menos muito importante. Se você cair em uma empresa com mais “anglos”, onde a língua do dia-a-dia seja inglês, o que é mais normal em multinacionais com sede nos EUA ou até startups, o francês perde valor. Conheço gente que mora aqui há décadas e só fala inglês. A Clara me lembrou que o Capitão Kirk, aka William Shatner, nasceu e cresceu aqui e não fala francês :)

Grana e trabalho em geral

Juntamos “bastante” dinheiro para nos prevenir, não recomendo chegar aqui com menos de C$30.000 dólares na poupança. Gastamos uma boa grana com a viagem, só entre passagens de avião e transporte e papelada dos gatos (temos 5) gastamos uns C$4.000. Chegando aqui compramos toda a casa, e lá se foi uns C$8.000, o dinheiro vai embora voando. Note que, dada a cotação, sua grana em R$ vale só a metade, e apesar do poder de compra de R$ 1 não ser igual a C$ 1, não há poupança que aguente sem crise por muito tempo, arrumar um emprego logo é importante.

Como regra geral, não conte com o câmbio (exceto quando converter sua poupança), pense que se você ganha X dinheiros no Brasil, num mundo ideal, você gostaria de ganhar pelo menos X dinheiros no Canadá, mantendo seu poder de compra na mesma situação, mas isso provavelmente não vai acontecer. Uma exceção são carros, um Civic top de linha aqui custa C$16.000, pago em 8 anos com juro zero. Outra coisa, o maior juros aqui é em torno de 4% ao ano, o que muda completamente o perfil de endividamento do povo.

Arrumei emprego em menos de 1 mês, dei muita sorte, achei um trabalho igual ao que tinha no Brasil, começando como gerente e tudo mais, o que foi bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque ganho relativamente bem e minha poupança parou de sangrar, ruim porque ganhar mais do que o primeiro salário vai ser complicado. Segundo uma amiga nossa que trabalha no governo daqui, o salário médio é algo em torno de C$ 35.000/ano, que está no topo da carreira, em poucas áreas, tira C$75.000+/ano, só 4% da população ganha mais de C$100.000/ano. Além disso, os impostos são progressivos, quem ganha mais paga mais, em geral bem mais, o que eu acho extremamente justo, que me desculpe a classe média.

O lado positivo dos salários serem relativamente baixos é que é todo mundo vive mais ou menos igual, a diferença entre o CEO de uma empresa e o cara do suporte não é de 30x, no máximo uns 4x, o que gera uma sociedade menos problemática, com menos pobreza. Não se engane, tem gente morando na rua e gente bem pobre, mas a maioria esmagadora da população tem uma vida ok. Essa é uma das melhores coisas do Canadá, sob o meu ponto de vista.

Não faço idéia de quão difícil é arrumar um emprego fora da área de TI, mas sei que muitas profissões são regulamentadas, e para quem trabalha em áreas como medicina o processo é um inferno, leva anos e em geral é mais fácil refazer a faculdade aqui, o que não é uma opção para muita gente.

Trabalhar com TI

Se você trabalha com tecnologias enterprise, tipo Java e .NET, gosta do esquema bate cartão das 8 às 5, e sonha em passar num concurso público por causa da estabilidade, seu lugar é aqui. Pule o resto desse tópico.

Se você gosta de tecnologias open source, com comunidades, empresas mais abertas, metodologias ágeis para todos os lados, horários flexíveis e tudo mais, sinto muito, seu lugar não é o Canadá, ou pelo menos Montreal. Eu tive a sorte de achar um emprego numa empresa que tem um monte de benefícios, mas essa não me parece ser a realidade da maioria dos lugares. Aparentemente o esquema “fábrica de software’ é a regra, e as empresas mais alternativas são minoria, menores e pagam menos.

Os meetups aqui são relativamente pequenos e você sempre vai ver o mesmo povo, na sua maioria imigrantes, poucos nativos, e sempre em inglês (essa parte eu acho boa, integra mais gente). A Clara disse que o mesmo acontece até nas comunidades de tricô, os encontros de São Paulo eram mais agitados, não dá para comparar. Tem muita startup, a maior parte delas são social-media-gamification alguma coisa, pagando zero e atrás de VC, com algumas exceções, mas conto em 1 mão quantas são realmente interessantes ou estão trabalhando com tecnologias incríveis, a maior parte do trabalho é bem normal. O teto dos salários para devs, até onde pude descobrir, é de C$ 70.000/ano, ganhar mais que isso é raro, e a média é por volta de C$ 50.000/ano. ATENÇÃO: informação sem base estatística, use por conta e risco

Outra coisa meio chata é a falta de eventos, tem pouquíssimos eventos de tecnologia por aqui, e os que acontecem são super coxinha, povo de terno e gravata, vendor talk a cada 5 minutos e quase nada interessante sendo apresentado. Há exceções, mas até onde vi são poucas. Aparentemente a cena é melhor em Toronto, pelo menos eles tem mais meetups e eventos do que Montreal, e os amigos que moram por lá falam bem.

Uma área enorme aqui é a de games, tem milhões de estúdios de game na cidade, Montreal é a capital do video-game, mas até onde costa o lance é meio complicado, as horas são longas e os salários baixos, muita gente que trabalha nos estúdios não dura muito tempo devido a pressão, mas são relatos de terceiros. Quem trabalha com desenvolvimento para mobile ou front-end pode se dar bem, tem muita gente procurando devs com esse perfil.

Não sei como fazer para arrumar empregos, eu consegui através de contatos em eventos e sempre tem recruiter mandando mensagens no meu LinkedIn. Alguns sites que ouvi falar mas nunca usei:

  • MatchFwd - startup da cidade, aparentemente tem boas vagas aqui
  • Monster - clássico da América do Norte, nunca usei

Listas de grupos de usuário sempre ajudam, em geral tem pouquíssimo tráfego, mas vira e mexe aparece uma vaga:

Arrumar emprego em TI nas empresas tradicionais é o velho e bom “manda currículo e vai fazer entrevista”, uma hora você acha, as empresas mais moderninhas gosta de GitHub e de fazer white-boarding (um saco, diga-se de passagem), mas como em todo lugar, contatos abrem portas, o problema é que fazer contatos aqui é um mais complicado, e quem chega como imigrante não tem muitas vantagens nesse aspecto. É importante ressaltar que, apesar de eu ter conseguido emprego em 1 mês, essa não é a regra, sei de pessoas que ficaram 6 meses procurando, e a possibilidade disso acontecer é grande, a não ser que você tenha um portfólio incrível ou fez contatos antes de vir para cá. Minha recomendação é se preparar para o pior.

Note que a situação não é mil vezes melhor no Brasil, mas pelo menos a cena de TI de São Paulo, no mundinho fechado que eu fazia parte, era muito muito melhor, com muito mais oportunidades, projetos interessantes e salários bem altos. Apesar disso, o povo que vai aos meetups é gente boa e acolhedor, o que conta muitos pontos no meu livro.

Aluguel

Um dos maiores gastos que você vai ter quando chegar é o aluguel, que vai comer sua poupança sem dó. Quando chegamos alugamos um apartamento temporário via AirBnb por duas semanas, usamos os dois primeiros dias para resolver a papelada e procurar apartamento, demos sorte de achar um lugar legal no 3o dia e pronto, tudo resolvido. Porém, pesquisar apartamentos toma tempo e você tem que ir visitar, não feche nada pela internet, ande na vizinhança e eu pegar algo próximo do metrô, quanto mais perto melhor, isso vai salvar sua pele no inverno.

Prepare-se para gastar entre $700 a $1000 por um apartamento de 1 ou 2 quartos na ilha, morar no subúrbio pode ser mais barato considerando $/metro quadrado, mas você vai precisar de carro ou gastar um tempão fazendo commute, pense bem antes de escolher uma casinha com gramado e cerca branca.

O lado bom é que as leis para evitar que o dono do apartamento abuse do inquilino são boas e a burocracia é pequena, você compra um formulário de contrato de aluguel chamado “Bail” em livrarias, e preenche junto com o dono do apartamento, assina e pronto, não tem muita crise. Os sites do governo tem informação sobre isso, leia bastante. Como não tinha referências ou emprego quando chegamos, propus pagar 3 meses de aluguel adiantado, os dois primeiros meses e o último quando decidirmos sair do apartamento. Isso não é exatamente legal, mas foi uma forma rápida e fácil de fechar o acordo com o dono do apê, e demos sorte de achar um cara legal.

Normalmente os apartamentos vêm com os eletrodomésticos brancos inclusos, tipo geladeira, fogão (elétrico) e lava-roupas, o que é uma mão na roda, economiza muita grana e facilita a mudança. No nosso caso pagamos alguel e eletricidade, que fica mais ou menos C$100/mês, mais no inverno, menos no verão, a conta vêm a cada dois meses. Lembre-se que tudo aqui é elétrico, não tem nada a gás, não é complicado de se acostumar, mas quando a luz acaba tudo morre.

Internet e telefone

Antes de escolher provedores de Internet leia “Comparaison des IISP par câble au Québec”. Os grandes provedores são Bell e Videotron, ambos tem boas conexões, o atendimento é tosco como qualquer grande telecom e só recentemente eles adicionaram planos ilimitados. Certa vez tive que pagar $700 de conta na Videotron por excesso de uso, bando de FDP, e tive que pagar $80 na Bell pelo mesmo problema, agora estou mudando para o plano ilimitado que cust $30/mês além do pacote básico, quem compra o combo Internet+TV+Telefone paga $10 extra, mas só usamos internet, então não vale a pena.

Para celular, usamos Rogers, a cobertura é boa, os preços são altos, mas quando chegamos foi uma escolha rápida. A menos que você use muito celular eu recomendo comprar algo pré-pago. Fido e Public Mobile oferecem pacotes menores, estou pensando em mudar para a Public Mobile porque só usamos 3G, raramente fazemos ligações.

Governo

O governo é ok, tem muitos serviços bons para imigrantes, apesar de serem meio burocráticos tivemos bastante orientação e não foi complicado fazer nossa papelada. Também tivemos a sorte de ter endereço de familiares aqui, isso ajudou horrores. Aqui o documento básico é a carteira da Assurance Maladie, que é o SUS daqui, com ela você tem tratamento médico gratuito do governo, que até onde sabemos (nunca usamos) é ok mas demora um bom tempo para ser atendido, o lado bom é que você não fica endividado até o pescoço como acontece nos EUA.

Tirar a carteira de motorista foi mais complicado, tive que fazer a prova 3 vezes, mesmo dirigindo numa cidade com trânsito de verdade por mais de 16 anos, o povo aqui é meio caxias e os motoristas, em geral, são ruins, mas é a vida.

Existe uma quantidade enorme de serviços de assistência, inclusive para arrumar emprego, mas até onde sei isso funciona para quem não trabalha com TI, nossa área é um pouco diferente. O desemprego não é muito grande até onde sei, mas não está sobrando vaga em todas as carreiras, e como disse antes os salários médios não são absurdamente altos.

Para quem reclama de impostos, o leão aqui é tão ou mais faminto que no Brasil, mas pelo menos eu acho que o serviços prestados pelo governo valem o preço. O Québec tem um dos impostos mais altos, é normal deixar 40% do salário só com impostos, e adicione 15% a todas as compras que fizer, esse é o valor dos impostos. Se você reclama do Brasil e quer ir para um país com impostos mais baixos, não venha para o Canadá.

Um detalhe engraçado, que até faz sentido mas é meio mala, é que nos órgãos do governo do Québec só se fala francês. Se você estiver muito perdido eles falam inglês com você, mas não conte com isso.

Saúde

Comparado com o SUS ou o estúpido sistema de saúde dos EUA, o Canadá é um paraíso. Até agora não precisamos utilizá-lo, mas até onde sabemos o problema é que há uma boa demora para ser atendido se você não estiver num caso de urgência, procedimentos eletivos demoram uma eternidade e você tem que passar por um “médico da família” para algumas coisas.

Porém, o fato de se ter um “médico da família” pode garantir sua saúde no longo prazo, com prevenção ao invés de tratamentos corretivos. Infelizmente o número de médicos não é grande, é complicado achar um médico com vagas para aceitar pessoas novas, eles tem uma quantidade limitada de pacientes, mas é melhor do que nada.

Fora isso, a saúde pública é gratuita, todo mundo tem direito de se tratar e não contrair uma dívida absurda no processo. A empresa onde trabalho paga um seguro saúde particular, o que alivia os gastos do governo e tem algumas coisas extras, mas todo mundo está coberto e isso é importante.

Se alguém quiser ver o lado ruim, recomendo assistir ao filme “As Invasões Bárbaras” para ver como é, pelos relatos de pessoas que conheço não é tão ruim quanto eles pintam, espero não precisar confirmar isso pessoalmente.

Montreal

Montreal é a maior cidade francófona do país (3.8 milhões de habitantes), a segunda maior cidade do país depois de Toronto (5,5 milhões), mas que para nós, habituados com a Terra da Garoa é um pinguinho de gente. A vantagem, segundo meu ponto de vista, é que Montreal é uma cidade de imigrantes, andando na rua você vai encontrar um monte de gente falando tudo que é língua, menos inglês e francês, além de sempre ouvir algum brasileiro falando alto :)

Transporte

O sistema de transporte público é bem ok, o metrô é bom o suficiente, pelo menos no centro da ilha, e os ônibus nunca estão cheios. Eles tem um sistema parecido com o Bilhete Único chamado Opus, paga-se C$77/mês e se pode andar de metrô e ônibus o quanto quiser, é o que eu faço. Durante a primavera e o verão o povo gosta de andar de bicicleta e caminhar, no frio todo mundo se esconde, mas é uma cidade onde o povo caminha muito. Quem mora na ilha não precisa de carro, quando a coisa aperta dá para alugar ou se associar a empresas que fazem car sharing, pagando uma taxa anual e uma taxa por hora de uso, é bem ok, mas ainda não fiz o meu.

A cidade tem muitas atividades, parques e coisas para fazer, eu sou bem caseiro para desespero da minha esposamulher, mas quem gosta de passear tem um prato cheio, quando está quente tudo que fica a céu aberto fica lotado de gente, e quando está frio os shoppings bombam.

Segurança

Até onde consta, ter filhos aqui é uma coisa boa, o governo dá um monte de isenções e a educação, até onde sei, é boa. O lugar é super seguro, se esse mapa de assassinatos estiver correto, eles tiveram 28 em 2012, ou seja, não se compara aos de São Paulo, que aparentemente passam de 3.000/ano. Nunca ouvi falar de roubos, aparentemente o maior problema são os furtos de bicicleta, nunca deixe sua magrela sem cadeado por aqui :)

Toronto

Só fui à Toronto uma vez mas gostei bastante, me lembrou de São Paulo, tem muito mais torres de vidro e gente, mas não sei se é bom morar por lá. Até onde consta as comunidades de software são maiores e as empresas de TI mais dinâmicas, alguns amigos trabalham por lá e acredito que seja melhor para trabalhar do que Montreal, mas a parece que a vida aqui é mais sossegada. Além disso, Toronto funciona num ritmo americano, o povo é apressado e direto ao ponto, aqui em Montreal é aquela coisa mais latina e complicada, mais cheia de drama, e talvez menos eficiente, me lembra bastante o Brasil por sinal.

Minhas recomendações

Para quem trabalha com TI, especialmente para quem usa ferramentas da moda, gosta de comunidades e valoriza muito seu trabalho, como eu, acho que o Canadá, ou pelo menos Montreal, é uma opção ruim. Hoje eu provavelmente pensaria melhor antes de vir para cá, acho que tentaria ir para Toronto ou ir de vez para Meca, aka San Francisco (que é incrível, diga-se de passagem).

Porém, a vida aqui é muito boa para quem quer curtir um rítmo menos maluco, com muito menos stress, numa cidade com muto verde e gente saudável, dá raiva/inveja de ver a quantidade de gente correndo nas ruas todo dia por aqui. A vida é mais simples, tem um monte de atividades para fazer e o povo, em geral, é bem gente boa. Se você busca qualidade de vida em detrimento de uma carreira motivante em TI (segundo o meu critério de motivante), aqui é um bom lugar para se viver.

Eu tive muita sorte e nós nos preparamos bem para fazer a viagem, isso ajudou muito, não se iluda pensando que vir para cá é um mar de rosas e super fácil, a vida aqui, pelo menos sob meu ponto de vista, é mais difícil que no Brasil, mas tenho que descontar o fato de não ter uma boa rede de contatos por aqui.

Considere tudo o que falei e não acredite cegamente em nada, tudo que escrevi é influenciado pelas minhas experiências aqui, não é uma análise imparcial, e cada pessoa tem um jeito diferente de encarar as coisas, se você vier para cá espero que goste e seja muito feliz, apesar das minhas reclamações Montreal é uma boa cidade para se viver, mas certamente não será a cidade onde irei me aposentar.

Se quiser informações específicas, deixe um comentário, mande um tweet para @rafaelrosafu ou mande e-mail, eu pretendo atualizar esse post com mais informações ao longo do tempo.

P.S.: Mudei “esposa” para “mulher” a pedido da minha esposa :)

P.P.S.: Esse post foi originalmente publicado como um gist, obrigado a quem deixou comentários.